O lado verde da recuperação econômica

Desmatamentos, deslocamentos de populações tradicionais, enchentes e deslizamentos de terra, aumento da demanda de geração de energia, extinção de espécies, aquecimento global. Não é de hoje que o Brasil enfrenta os efeitos decorrentes da crise ambiental. Todavia, a novidade está no fato de que a quantidade de recursos naturais necessários à produção capitalista atingiu níveis alarmantes na contemporaneidade. Nesse contexto – seja na escala local ou global –, os conflitos socioambientais tornaram-se cada vez mais prementes, sendo que os efeitos das crises climáticas são vivenciados, sobretudo, por determinadas populações e territórios.

A publicação que ora apresentamos se insere nessa discussão. Em um primeiro momento, apresentam-se algumas iniciativas governamentais, da sociedade civil e do setor empresarial que buscam aliar a sustentabilidade com a recuperação econômica. De fato, em tempos de Covid-19, as discussões referentes aos processos de recuperação do crescimento ocupam o centro do palco mundial, processos que são inseparáveis das crises climáticas e socioambientais. Além disso, essa publicação propõe-se uma análise crítica das iniciativas apresentadas, evidenciando as contradições entre possíveis soluções para a economia e o respeito ao meio ambiente e povos e comunidades tradicionais, bem como a população mais vulnerável as consequências da crise climática. Nessa chave, destaca-se, por exemplo, o Programa Nacional de Crescimento Verde, lançado pelo Governo Federal em outubro de 2021, pelo mesmo governo – e esse é um dos pontos analisados – que promove o desmonte da fiscalização ambiental e estimula atividades como garimpo, grilagem e extração ilegal de madeira.

Por fim, na terceira parte, busca-se oferecer aos leitores e às leitoras alguns conceitos e elementos analíticos para o debate. Noções como ecologia política, racismo ambiental e interseccionalidade serão apresentadas e debatidas. De modo sintético, tais conceitos, cada um a seu modo, chamam a nossa atenção para o fato de que são as populações tradicionais, os povos indígenas, os pequenos produtores rurais e determinados grupos urbanos que mais sofrem com efeitos ambientais danosos, fruto da exploração capitalista desenfreada.